Thursday, June 15, 2006

Da tela nasce vida

Para mim, num terceiro se esconde a verdadeira sorte. Que me faça mulher e feliz.

Papoilas, Papoilas, rainhas de sí mesmas, há muito que desejava ver a nossa côr porque não é em vós o cheiro que se entrelaça com o meu pulsar. Criadas por um píncel mudo, escorregadio e sujo, cederam-me uma estória de desencantar, ilustrada por irmãs mergulhadas em azeite, fúnebres e lustrosas, que fizeram nascer nessa tela sons de um píanista feito para embalar.
Nasce a Maria, menina, no meio das mães acarinhada pela morfina da sua pele.
Cresce a Maria e a escuridão de criança sozinha e perdida reflecte-se na atracção pela noite aquando da sua queda.
Num movimento brusco a firmeza da presença de menina grita e abafa as papoílas esquecidas na loucura.
Passam-se anos, anos e anos e a Maria Mulher, crescida na noite, torna-se maior, Maios do que a lua, maior do que a miséria, maior do que a noite que a viu crescer.
Vai, ela, orientando-se por candelabros incertos, espelhos das almas urbanas espalhadas na gravilha da sua terra.
- Papoilas, Papoilas aonde estão?
O medo cobriu a Noite e a escuridão revelou-se escura, as Papoilas tornaram-se não mais do que recordações que não enchiam por dentro e a Maria, sozinha e sem final para a sua estória, procura quem a alimente, não de vida mas com uma tela em branco.